sábado, 23 de abril de 2011

Indivíduos e Criaturas

De repente me senti só, no meio do nada. Lembrei da minha infância, meus irmãozinhos, uma vaga lembrança de minha mãe me veio a mente, me dava seu leite materno com muito amor, cresci feliz, corria muito, brincava muito, eu e meu irmão menor saíamos, andávamos pelo campo caçando  animaizinhos mas, nunca pegávamos nada, acho que não éramos malvados, só queríamos nos divertir.

Olhei para os lados, muito verde, mata fechada, pensei em atravessar mas, era grande o tráfego de veículos, perigoso, sabia que era perigoso pois na minha casa meu pai possuía um e eu sempre saía de trás. A fome começava a apertar. 

Caminho com lentidão pois não tenho mais a energia de outrora. Paro e penso, onde estarão meus irmãos que há tempo não os via, mesmo na casa de meus pais. Acho que haviam ido morar em outra cidade.

Estou caminhando há dias pelo mesmo caminho, mas não rende, paro muito, descanso muito, acho que é a idade. É noite. Chove bastante e eu não acho lugar para me abrigar e mesmo assim entro em um mato, talvez as árvores me protejam desta chuva muito forte. Encontro uma ávore grossa onde tem um buraco mas, já existe alguém nele, mesmo assim me encosto no seu caule e me abrigo, não por inteiro. Depois de um tempo a chuva passa, estou todo molhado. Sinto saudade de meu pai, da minha casa modesta e seca em que morei muitos anos.

Cuidava da casa. Os ladrões nunca chegaram. Quando eu via qualquer coisa estranha, avisava meus pais. Começo a refletir por quê estou aqui. Estou aqui porque meu pai me convidou pra sair, me botou no carro e eu feliz como sempre fazia há muitos anos, começamos a andar por uma rodovia, quando inesperadamente paramos, ele desceu e me chamou, descí correndo, meu rabo era um ventilador de tão contente que fiquei. De repente ele retornou ao seu carro, entrou e eu fiquei olhando.

Pensei que ele estava brincando e já voltaria mas, já faz vários dias e nada, acho que algo aconteceu a ele porque sempre fomos grandes amigos e agora que estou velho ele não me deixaria só, abandonado, com frio e fome, tenho certeza disso. Continuarei lhe esperando sempre.

Lembro que depois de vários dias caminhando avistei um posto de gasolina onde havia um restaurante, só que no lado oposto da rodovia. Não resisti, já que lá com certeza me dariam uma comidinha, pois não aguentava mais, minhas pernas doiam, meu estômago estava nas costas e meu cérebro com dor estava em outro lugar.

Tentei atravessar a estrada e ouvi um estrondo. Não sei o que houve mas estou aqui neste paraíso, onde não sinto fome, nem frio, mas uma coisa eu continuo sentindo, é a grande saudade de meu dono.

Que Deus o ajude e o proteja para sempre!


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